Ora,
o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da
casa, ouviu a música e as danças. Chamou
um dos criados e perguntou-lhe que era aquilo. E
ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o
recuperou com saúde. Lucas 15:25-27.
Jesus introduziu o caráter do irmão mais
velho a fim de mostrar, mediante contraste vivido, a verdadeira natureza do
sistema doutrinário farisaico. Podemos perceber que esse irmão não possuía o amor-Ágape
presente em seu pai e, além disso, revelou-se totalmente ignorante de tal amor,
e inimigo de qualquer manifestação nesse sentido. Ele trabalhara o dia inteiro
no campo. Ao regressar, ouviu o som de música e da dança. Aborrecido, perguntou
a um empregado o que estava acontecendo. O empregado lhe disse que seu irmão
havia regressado e aquela festa era a celebração de boas vindas da família. Os
olhos do moço escureceram-se de ódio e, voltou ao campo, recusou-se a entrar.
Ele repugnava o irmão menor; desprezava-lhe a memória e, por dentro, também
sentia raiva de seu pai. Ele se indignou
e não queria entrar; saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo. Lucas 15:28.
Em sua fúria, o moço revelou o que se
aninhara no seu coração durante todos aqueles anos. Muito mal-humorado, o moço
recusou-se, e em seguida explodiu contra seu pai dizendo: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem
tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos.
Lucas 15:29.
A palavra grega para “servir” é (doulos)
que significa “estar escravizado”. Então ele argumentava que havia sofrido
muito sob as leis decretadas por um pai feitor de escravos. Ele se considerava
também um escravo, rápido na obediência a todas as ordens. Devido ao seu pensamento
pervertido, o moço entendia as palavras do pai segundo a mente de um escravo.
O fato é
que esse moço ainda não havia sequer começado a compreender a ideia de um
relacionamento de amor no qual ele, como filho, era aceito e amado por quem
era, e como era. Cristo em nós é a garantia que somos alvo do amor do Pai. Eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam
aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os
amaste, como também amaste a mim. João 17:23.
O filho mais velho e mal-humorado não conhecia
a alegria de amar ao pai e ao irmão com esse tipo de amor. Jamais houve um
único dia em que ele trabalhasse por amor puro e simples a seu pai, a fim de
prover-lhe sustento e, ao mesmo tempo, extasiar-se diante da ideia de ser
coproprietário da fazenda. O fato é que a mentalidade de escravo não imagina
festas e celebrações espontâneas de alegria. É provável que esse moço jamais
tenha desejado uma festa, até ver seu irmão no meio de tanta alegria. E as
Escrituras nos exorta a que sejamos alegres sempre. Filipenses 4:4. Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo:
alegrai-vos.
Mas o filho não conseguia se alegrar,
mas a explosão dele foi: “Isso não é direito! Ele não fez o que eu fiz! Ele não
trabalhou como um escravo, não obedeceu a todas as ordens como eu obedeci.
Quando é que terei feito tanto, que o senhor estará satisfeito?” O que esse
moço e os fariseus não conseguiam enxergar, por serem cegos, era que a
aceitação nada tinha a ver com ações ou comportamento. Tinha tudo a ver,
entretanto, com o amor do pai. É fundamental que todo filho de Deus em Cristo
creia e desfrute desse amor incomensurável. De longe se me deixou ver o SENHOR, dizendo: Com amor eterno eu te
amei; por isso, com benignidade te atraí. Jeremias 31:3.
O pai havia menosprezado o comportamento
do filho mais velho e, ao proceder assim, estava afirmando que suas ações nada
tinham a ver com aceitação ou rejeição. A aceitação dependia de quem era o pai,
e não do que o filho fizera. Procurar a aceitação de Deus mediante a modificação
do comportamento reduz o Cristianismo a uma fórmula, em vez de mostra-lo como
realmente é: um relacionamento dinâmico com Deus, trazido por Cristo. Isso Ele
mesmo já nos declarou em Miquéias 6:8.
Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que
pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu
Deus.
Quando o irmão mais velho referiu-se ao
mais novo como “esse teu filho,” em vez de “esse meu irmão", estava dando
a entender que o comportamento do rapazinho o levara a perder o direito de
membro da família. Mas
a coisa é ainda pior, porque viver segundo regras e códigos produz o inverso
dos objetivos de Jesus. Deus é Ágape, e Jesus afirmou que seus discípulos
seriam conhecidos por uma vida marcada pelo amor divino. João 13:35. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se
tiverdes amor uns aos outros.
É trágico que a religião só consiga
produzir orgulho no coração da pessoa, e desprezo por todos quantos não acatam
os preceitos específicos da seita. A religião mira-se no espelho de seus
mandamentos e, em seguida, espreita os que não pertencem ao mesmo círculo de
presunçosos, e orgulha-se dizendo: Ó
Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos
e adúlteros, nem ainda como este publicano. Lucas 18:11b.
Quando o homem recebe a dádiva do Ágape,
há alegria, há festa. Entretanto, dali a pouco os guias farisaicos aparecem, à
semelhança de erva daninha em canteiro de flores, a fim de minimizar a vida
espontânea do Espírito, reduzindo-a a um código rígido. O relacionamento com
Deus transforma-se assim numa fórmula morta para reger a vida. Ao longo da história, o Espírito de Deus tem-se
manifestado continuamente entre os homens, e aberto seus olhos para que vejam o
grandioso e incondicional amor revelado por Deus em Cristo Jesus. Nem qualquer
outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus,
nosso Senhor. Romanos 8:39b. Amém.
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