Aconteceu
que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao SENHOR.
Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste.
Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua
oferta não se agradou. Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o
semblante. Gênesis 4:3-5.
Temos nas pessoas de Caim e Abel, os
primeiros exemplos dum homem do mundo religioso e dum genuíno homem de fé.
Nascidos, como na realidade foram, fora do Paraíso, e sendo os filhos de Adão,
depois da Queda, nada podiam ter de natural que os distinguisse um do outro.
Eram ambos pecadores, tinham ambos uma natureza perversa. Nenhum deles era
inocente. É bom estarmos certos disto, a fim de que a realidade da graça divina
e a integridade da fé possam ser distintamente vistas. Caim e Abel eram filhos,
não do Adão inocente, mas, sim, do Adão culpado. Entraram no mundo como
participantes da natureza de seu pai; caída, arruinada e irremediável. O que é nascido da carne é carne; e o que é
nascido do Espírito é espírito. João 3:6.
Se houvesse alguma coisa na natureza com
que ela pudesse recuperar a sua inocência e estabelecer-se novamente dentro dos
limites do Éden, este foi o momento para a sua manifestação. Porém nada disto
se deu. Estavam ambos perdidos. Era “carne”. Adão não podia legar nem
transmitir a sua fé a Caim ou Abel. A sua possessão da fé era simplesmente
fruto do amor divino. Tal qual é o
gerador, tal é aquele que dele é gerado. Havia sido implantada
na sua alma por poder divino; e Adão não possuía poder divino para comunicá-la
a outrem. Viveu Adão cento e trinta
anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem. Gênesis 5:3a.
Se analisarmos as Escrituras Sagradas
atentamente, observaremos que ela contempla toda a raça humana como sendo
compreendida debaixo de duas cabeças. No primeiro homem, temos pecado,
desobediência e morte. No Segundo Homem, temos justiça, obediência e vida.
Assim como trazemos a natureza do primeiro, do mesmo modo temos a do Segundo.
Assim como a maneira de recebermos a natureza do primeiro homem é por meio do
nascimento, assim também o modo de recebermos a natureza do Segundo Homem é por
meio do “novo nascimento”. Tendo nascido,
participante da natureza do primeiro; sendo “nascido de novo”, participamos da
natureza do último. 1 Coríntios 15:49 E,
assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem
do celestial.
Ganhamos a vida de Cristo quando
morremos e ressuscitamos com Ele. É quando Cristo vive em mim que tenho
participação em Sua natureza. 2 Pedro
1:4b. Pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes
promessas, para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina.
A história de Caim e Abel nos mostra que
eles tiveram atitudes diferentes. A história de Abel apresenta a uma tal pessoa
o único fundamento verdadeiro da sua aproximação e relação com Deus. Vemos
distintamente, que não pode chegar a Deus sobre a base de coisa alguma que
pertença ou seja da natureza; e tem de procurar fora de si mesmo, e na pessoa e
obra de outrem, a base verdadeira e eterna da sua ligação com o Deus santo,
Verdadeiro e Justo. O capitulo onze de Hebreus apresenta-nos o assunto do modo
mais distinto e compreensível. Pela fé,
Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve
testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por
meio dela, também mesmo depois de morto, ainda fala. Hebreus 11:4.
Caim era pecador e, como tal, a morte estava
entre si e o Senhor. Porém, na sua oferta não havia reconhecimento algum deste
fato. Não havia a apresentação de uma vida sacrificada para cumprir as
reivindicações da santidade divina ou corresponder à sua verdadeira condição
como pecador. Caim tratou o Senhor como se Ele fosse inteiramente igual a si,
que pudesse aceitar o fruto manchado de pecado da terra amaldiçoada. Tudo isto e muito mais se acha incluído no
sacrifício incruento de Caim. Deus ensina, e a fé crê que deve haver vida
sacrificada, de contrário não pode haver aproximação de Deus. Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar
no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus. Hebreus 10:19.
Desta forma, quando encaramos o
ministério do Senhor Jesus, vemos, imediatamente que, se Ele não tivesse
morrido na cruz, todo o Seu trabalho teria sido inteiramente inútil quanto ao
estabelecimento do nosso parentesco com Deus. Na verdade “Ele andou fazendo o
bem” toda a Sua vida, mas foi a Sua morte que rasgou o véu. E Jesus, clamando outra vez com grande voz,
entregou o espírito. Eis que o véu do santuário se rasgou em duas partes de
alto a baixo; tremeu a terra, fenderam-se as rochas. Mateus 27:50-51.
Um pecador imperdoado vindo à presença
do Senhor, para apresentar um sacrifício incruento, só podia ser tido como
culpado do maior grau de presunção. E a maioria das pessoas mesmo neste estado
de pecado tem prazer em se chegar a Deus. Mesmo
neste estado, ainda me procuram dia a dia, têm prazer em saber os meus
caminhos; como povo que pratica a justiça e não deixa o direito do seu Deus,
perguntam-me pelos direitos da justiça, têm prazer em se chegar a Deus. Isaías
58:2.
Quando Caim percebeu que ele não fora aceito
e nem a sua oferta fora recebida, descaiu-lhe e ficou irado. A fúria faz parte
do desapontamento. É comum ficarmos zangados quando vemos perdidos os nossos
projetos, e com isso, a cara do religioso fica de continuo, amuada ou azeda. A
sensação desse fracasso, diante de tanto esforço, o deixa de fato irritado e
indisposto. Alguém disse com muita sabedoria que: “Quando uma pessoa se sente
rejeitada, apesar de seu grande valor, não é possível que ela conviva bem com
alguém que foi aceito, sem qualquer merecimento”. A religião não suporta a
graça incondicional de Deus. É por isso que Caim matou Abel, por quê? Porque as suas obras eram más, e as de seu
irmão, justas. 1 João 3:12b.
Muita gente aberta e sincera tem caído
nas arapucas da religião, supondo que se trata de um maravilhoso viveiro
evangélico. Cuidado!
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