Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. Salmos 51:10.
Há certos passos necessários antes que alguém se torne cristão, e o primeiro é que o homem precisa parar e pensar. Afirmo que é impossível ser cristão sem reflexão. Reconheço que há muitas pessoas que acham que um homem é cristão justamente porque ele não pensa e que aqueles que estão sem Cristo têm o monopólio do pensamento. Todavia, a Bíblia toda afirma que um homem não pode tornar-se cristão até que ele pense. E acerca do que ele deve pensar? Deve pensar acerca de si mesmo. Davi havia cometido um pecado terrível, um crime terrível. Ele foi culpado de homicídio, de adultério, e ainda se comportava como se não tivesse feito absolutamente nada. E teve que ser confrontado pelo profeta Natã, que mostrou-lhe o que havia feito e obrigou-o a encarar a si mesmo. Foi então que ele percebeu exatamente o que havia feito. Esse é sempre o primeiro passo. Se você é uma pessoa que não tem se detido e olhado a si mesmo, seja o que for a verdade sobre você, posso lhe dizer que ainda não é um cristão. É impossível ser cristão sem encarar a si mesmo e olhar para a sua própria vida. O mundo se esforça para impedir-nos de fazer isso. Com seus prazeres organizados e todas as suas atrações sugestivas, ele faz de tudo para impedir as pessoas de se deterem, pensarem e encararem-se a si mesmas e suas próprias vidas. Entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. Efésios 2:3.
Mas aquele que é cristão já ultrapassou tudo isso. Ele tem parado e olhado, tem examinado, reconhecido certas coisas acerca de si mesmo, e feito uma confissão definida. Você encontrará isso no primeiro versículo deste Salmo. Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Salmos 51:1.
Então, o segundo passo é que um homem que se torna cristão é alguém que percebe sua total incapacidade. Ele reconhece sua necessidade de misericórdia e de perdão. É aquele que diz: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões”. Ele é alguém que tem visto que não pode livrar-se do sentimento de culpa, não pode encontrar paz e descanso para seu coração e mente como resultado de qualquer coisa que faça. Em desespero ele volta para Deus, o Deus que ele tem ofendido, e diz a si mesmo: “Minha única esperança está em Deus. O único que pode me dar paz é Aquele que mais tenho ofendido”. Então ele se lança sobre o amor, compaixão e misericórdia incomparável desse Deus único. Portanto, o ponto ao qual temos chegado é que o homem que não percebe que necessita de perdão não é cristão. Davi reconhecia que era um pecador e admitiu isto: Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos. Salmos 51:4a.
Contudo, observem que Davi não parou aí. Ele foi além disso. E quero enfatizar que todo verdadeiro cristão invariavelmente deve sentir sempre a necessidade de ir além desse ponto. A primeira coisa é que um homem se torna consciente da necessidade do perdão. Tenho certeza que todos nós sabemos algo acerca de uma consciência acusadora e atormentadora, do sentimento que temos errado e que queremos ficar livres daquele sentimento de culpa, a qual nos traz infelicidade. Queremos sentir descanso e paz. Esta é a primeira coisa que o pecador convicto pelo Espírito Santo sempre sente. É por isso que Davi orou: Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve. Salmos 51:7.
Isso é algo que está sempre presente em todo verdadeiro cristão. Ele reconhece sua necessidade de uma nova natureza, ele reconhece a necessidade de um novo nascimento, de regeneração. O verdadeiro cristão é alguém que reconhece que não basta ser perdoado e decidir viver uma vida melhor; ele percebe que precisa ser criado de novo. A não ser que Deus faça alguma coisa no íntimo do seu ser ele está totalmente perdido. Ele reconhece que necessita nascer de novo, ou seja, ser criado novamente. Entretanto, deixem-me dizer de passagem que nada é tão estranho como a maneira que o homem, por natureza, sempre rejeita esta doutrina da regeneração. Às vezes eu penso que não há nada que demonstre tanto a profundidade do pecado no coração humano como essa rejeição da doutrina do novo nascimento. Quando nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo falou sobre isso, sempre foi perseguido. Certas pessoas não gostavam dEle porque mencionava isso. Quando Ele começava a expor a profundidade da iniqüidade no coração humano e falava acerca de um novo nascimento, elas invariavelmente não O compreendiam. Quando Jesus pregava o Evangelho (morte e ressurreição) aos discipulos, a reação deles era simplesmente esta: Eles, porém, nada compreenderam acerca destas coisas; e o sentido destas palavras era-lhes encoberto, de sorte que não percebiam o que ele dizia. Lucas 18:34.
O homem natural, o coração humano natural, não regenerado, rejeita esta grande e maravilhosa doutrina bíblica do novo nascimento e regeneração. E isso é igualmente verdadeiro hoje. As pessoas se assentam e ouvem um discurso ou sermão sobre o que é chamado de paternidade de Deus, ou a fraternidade do homem, e nunca rejeitam isso. Quando elas são exortadas a viver uma vida melhor, nunca fazem absolutamente nenhuma objeção. Elas dizem que isso é perfeitamente correto, e mesmo que sejam repreendidas por não viverem uma vida melhor, elas dizem que isso é perfeitamente verdade, totalmente justo e que poderiam melhorar. Mas se um pregador se levanta perante o homem natural e diz: “Você precisa nascer de novo, você precisa receber uma nova vida de Deus,” ele questiona: “Que doutrina estranha é essa?” O homem natural está preparado para admitir que ele não é cem por cento um santo; entretanto se você disser que ele que está absolutamente corrompido, e que não apenas carece ser cem por cento santo, mas se ele não nascer de novo então não pode ter esperança, ele ficará ressentido e perguntará: “O que você está sugerindo?” Ele sentirá que você o está insultando. O homem, como resultado do pecado e da Queda, certamente não perdeu sua capacidade para tirar uma dedução correta das afirmações que são feitas; e essa é precisamente a implicação da doutrina do novo nascimento. Nicodemos era mestre em Israel, no entanto perguntou a Jesus: Então, lhe perguntou Nicodemos: Como pode suceder isto? João 3:9a.
Vocês se lembram do diálogo que se seguiu. Claramente, no pensamento de Nicodemos havia alguma coisa como isto: “Eu O tenho observado e ouvido, e tenho chegado à conclusão que o Senhor tem alguma coisa que eu preciso. Eu sou um mestre em Israel, tenho um bom conhecimento, mas estou bem certo que o Senhor possui algo mais que eu. O que tenho de fazer para me tornar como o Senhor?” Nosso Senhor lhe disse: “Não é uma questão de acrescentar algo ao que você já tem; você precisa nascer de novo, você tem que voltar diretamente ao fundamento; não é adição, e sim, regeneração”. Mas nós não gostamos disso, não gostamos por natureza, de uma doutrina que afirma que estamos sem esperança, que somos tão pecaminosos, tão corrompidos, que não podemos ser aperfeiçoados, visto que devemos ser literalmente criados novamente. Rejeitamos a doutrina do novo nascimento porque é a doutrina que nos fala muito claramente, por implicação, que realmente não podemos corrigir a nós mesmos. Necessariamente precisamos nascer de novo. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. João 3:7.
Por que devemos nascer de novo? Eis a questão. O que torna o novo nascimento uma necessidade absoluta se queremos verdadeiramente ser um cristão? A primeira resposta é esta: a infidelidade e a insinceridade da nossa natureza. Davi admitiu isso com estas palavras: “Eis que te comprazes na verdade (ou sinceridade) no íntimo”. Esse é o problema. Vocês percebem os passos que Davi deu. Ele examinou a si mesmo, reconheceu seus pecados, as coisas que praticou. Então deu mais um passo e disse: “Há alguma coisa podre dentro de mim, em meu coração, e em certo sentido não posso fazer nada a esse respeito, porque tenho visto que não posso confiar em mim mesmo. Careço de sinceridade nas profundezas da minha verdadeira natureza e ser”. Que confissão terrível para um homem fazer acerca de si mesmo! E mais, é algo que todo cristão necessariamente deve fazer. Jeremias colocou isso nestas palavras: Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Jeremias 17:9.
Você confia em si mesmo? Se confia é porque não conhece a si mesmo. Você ainda não descobriu as contradições, as distorções e a perversão em seu próprio coração? Você não chegou a ver a insinceridade que está bem no centro? Todos nós somos hipócritas, todos nós somos simuladores, todos nós aparentamos ser aquilo que não somos. Estaria eu exagerando ou estaria afirmando a pura verdade? Estaríamos felizes se nossas imaginações e pensamentos secretos fossem passados numa tela para que todos pudessem ver? Nenhum homem é um verdadeiro cristão até que reconheça que conhecimento humano, sabedoria humana e entendimento não são suficientes; até que ele chegue a ver como Pascal, um dos maiores filósofos de todos os tempos, que o supremo empreendimento da razão é conduzir um homem a enxergar os limites da razão e fazê-lo clamar por revelação. Eu preciso de sabedoria, necessito de luz. Necessito de luz sobre o meu próprio coração. Sou um mau terapeuta de mim mesmo, pois reconheço que não sou honesto comigo mesmo. Eu não encaro as coisas corretamente, sempre quero defender a mim mesmo; então não posso tratar a mim mesmo. Necessito de luz sobre mim vinda de fora. Necessito de mais sabedoria com respeito à minha verdadeira condição. Preciso de luz acerca da santidade, como viver uma vida santa. Eu preciso de luz sobre Deus, preciso da sabedoria que não posso prover a mim mesmo. Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama luz nas minhas trevas. Salmos 18:28.
O Filho de Deus desceu à terra e tomou sobre si a natureza humana a fim de que pudesse começar uma nova humanidade, uma nova raça de pessoas para formar um novo reino. E o que Ele faz é isto: àqueles que vêm a Ele e reconhecem que necessitam de uma natureza pura dentro de si mesmos, Ele dá Sua própria natureza. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; Gálatas 2:20a. Eu ficaria muito triste se alguém pensasse que o evangelho diz aos homens: “Sim, Deus é amor, e porque Deus é amor, Ele perdoa você em Jesus Cristo. Muito bem, por causa disso, vira-se uma nova folha e se começa a viver uma nova vida”. Isso seria para mim uma negação do evangelho. Não, o evangelho não simplesmente perdoa você e insta com você a voltar e viver uma vida melhor. Ele te dá uma nova vida. Ele propõe fazer-nos filhos de Deus, e nos tornar co-participantes da natureza divina. Sua mensagem é que Deus vem habitar em nós.Você não está entregue a si mesmo, você não está sendo enviado novamente à tarefa de tentar melhorar a si mesmo. Deus dá a você uma nova vida, um novo começo, um novo princípio. Você se torna um novo homem, e se verá num novo mundo, com um novo poder e uma nova esperança. E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas. 2 Coríntios 5:17. Amém.
Pr. Claudio Morandi
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