"NOSSA VISÃO: CONHECER A CRISTO CRUCIIFICADO E TORNÁ-LO CONHECIDO, EM TODO LUGAR, POR MEIO DA GRAÇA."

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A CRUZ E A ALMA

Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará. Lucas 9:23-24.
Em pelo menos quatro ocasiões separadas, registradas nos Evangelhos, o Senhor Jesus chama a seus discípulos a negar a vida da alma, a entregá-la à morte, e todo crente que quer seguir ao Senhor e ser perfeito reconhece plenamente que isto é o que deve ser feito para obedecer a Deus. O Senhor Jesus menciona a vida da alma em todas essas chamadas, embora com ênfase diferente em cada uma. Como a vida da alma apresenta-se de várias formas, o Senhor dá ênfase a uma diferente a cada vez. Todo aquele que queira ser um seguidor do Senhor deve prestar atenção ao que Ele diz. Está instando os homens a que entreguem sua vida natural na cruz. Mateus 10:38-39. E quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim. Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á.
Ao dizer “vida” se entende ser a vida da alma. Esses versículos nos chamam a renunciar à vida da alma e entregar à cruz por amor do Senhor. O Senhor Jesus explica como os inimigos do homem serão os de sua mesma casa; como o filho, por amor do Senhor, se enfrentará contra seu pai, a filha contra sua mãe, a nora contra a sogra. Isto constitui uma cruz e a cruz denota ser crucificado. Nossa inclinação natural é querer a nossos amados e nos deleitar com eles. Somos felizes ao escutá-los e estamos ansiosos de responder a suas chamadas. Mas o Senhor Jesus chama a não nos rebelar contra Deus por causa de nossos amados. Quando o desejo de Deus e o desejo do homem estão em conflito, temos que tomar nossa cruz, por amor ao Senhor, e entregar nossos afetos naturais à morte, embora a pessoa que amamos seja íntima para nós e embora sob circunstâncias ordinárias resistiríamos em feri-la. O Senhor Jesus nos chama desta forma a que sejamos desapegados de nosso amor natural. É por esta razão que Ele declara em Mateus 10:37: Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim.
Pois bem, Mateus nos mostra na questão do afeto que os crentes deveriam escolher amar primeiro ao Senhor, mais do que à própria família. O Senhor sustenta que esta vida da alma deve ser entregue à morte. Embora nós agora não vejamos a Ele, Ele quer que nós O amemos. Ele quer que neguemos nosso amor natural. Ele quer que nos desprendamos de nosso amor natural para outros a fim de que nós não amemos com nosso próprio amor. Naturalmente, Ele quer que amemos aos outros, mas não com nosso afeto natural. Nós temos que receber do seu amor a fim de poder amar a outros. O nosso amor deve ser governado pelo Senhor. Quando morremos com Cristo, o Seu amor vem a nós pelo Espírito Santo que nos foi dado. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado. Romanos 5:5.
Deus não quer que nosso coração esteja apegado a nada, porque quer que O sirvamos livremente. Sendo esta nova relação de amor a que se impõe, a vida da alma deve ser negada. Isto é uma cruz. Ao obedecer dessa maneira a Cristo, chegando a prescindir de nosso afeto natural, o amor natural do crente sofre intensamente. Esse tipo de pena e de dor passam a ser virtualmente uma cruz para ele. As feridas do coração são profundas e são muitas as lágrimas derramadas quando se tem que abandonar ao que se ama. Isto inflige intenso sofrimento a nossas vidas. Para a alma é terrivelmente repulsivo renunciar aos próprios amados por amor ao Senhor! Mas, por meio deste mesmo ato, a alma é libertada da morte; sim, inclusive chega a desejar morrer; e assim o crente é libertado do poder da alma. Ao perder seu afeto natural na cruz, a alma cede o terreno ao Espírito Santo, para que possa derramar no coração do crente o amor de Deus e capacitá-lo para amar em Deus e com o amor de Deus. Nós amamos porque ele nos amou primeiro. 1 João 4:19.
Quem pode imaginar que Deus pedisse a Abraão que sacrificasse a Isaque, quando Deus mesmo o havia dado? Os que captam o coração de Deus não tentam se agarrar aos dons ministrados por Deus; mas sim desejam descansar em Deus, o Doador de todos os dons. Deus não quer que nos sintamos apegados a nada, exceto a Ele, mesmo que seja homem, coisa ou algo que Ele mesmo nos tenha dado. Muitos cristãos estão bem dispostos a abandonar a Ur dos Caldeus, mas são poucos os que conseguem ver a necessidade de sacrificar no monte Moriá o que Deus lhes deu. Esta é uma das lições penetrantes da fé e se refere a nossa união com Deus. Ele requer de seus filhos que abandonem tudo para que possam ser totalmente dEle. Seus filhos têm que desprender-se não só do que sabem que é prejudicial, mas também entregar à cruz tudo o que é humanamente legítimo, como o afeto, a fim de que possamos estar inteiramente sob a autoridade do Espírito Santo. O apóstolo Paulo morria a cada dia para a vida da alma. Leiamos 1 Coríntios 15:31. Dia após dia, morro! Eu o protesto, irmãos, pela glória que tenho em vós outros, em Cristo Jesus, nosso Senhor.
A exigência de nosso Senhor é em extremamente significativa, pois não é verdade que o afeto humano é tremendamente incontrolável? Se não o consignarmos à cruz e o perdermos, o afeto pode passar a ser um obstáculo formidável para a vida espiritual. Temos, pois, que aborrecer nossa vida da alma e recusar seus afetos, para nos vermos livres de toda rédea. A demanda do Senhor difere completamente de nosso desejo natural. O que era amado previamente deve ser agora aborrecido; e até o órgão que gera o amor, a vida da alma, deve ser aborrecido também. Este é o caminho espiritual. Se verdadeiramente levamos a cruz, não seremos controlados nem influenciados pelos afetos naturais, mas sim seremos aptos para amar no poder do Espírito Santo. Foi assim que o Senhor Jesus amou a sua família quando esteve na terra. Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á. Mateus 16:24-25.
Pelos versículos anteriores, vemos que o Senhor Jesus estava naquele momento revelando a seus discípulos o seu futuro encontro com a cruz. Movido por seu intenso amor ao Senhor, Pedro balbuciou: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá. Mateus 16:22b. Pedro pensava no homem, insistindo para que seu Mestre evitasse a dor da cruz na carne. Pedro não tinha chegado a compreender que o homem deve centrar-se nas coisas de Deus, mesmo numa questão como a morte em uma cruz. Falhou em compreender que o interesse em fazer a vontade de Deus deve suplantar qualquer interesse próprio. Qual foi a resposta do Senhor a Pedro? Repreendeu-o severamente e declarou que uma idéia tal como o compadecer-se de si mesmo só podia ter se originado em Satanás. Quando Cristo nos chama a negarmos a nós mesmos, por meio da cruz, e a renunciarmos a tudo por amor a Ele, nossa vida natural responde de modo instintivo com auto-compaixão. Isso nos faz pouco dispostos a pagar qualquer preço por Deus. O nosso eu precisa permanecer na cruz, crucificado e bem morto. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim. Gálatas 2:20. O levar a cruz é contínuo. A cruz que condenou o pecado à morte é um fato consumado e tudo o que nos resta é que a reconheçamos e a percebamos. Mas a cruz por meio da qual nos desprendemos de nossa vida da alma é diferente. O negar-se a si mesmo não é uma questão já feita e completamente terminada; temos que experimentá-lo diariamente. A morte para o pecado foi realizada em nosso favor por Cristo; quando Ele morreu, nós morremos com Ele. Mas o negar a vida da alma não é uma coisa já consumada. Requer que tomemos nossa cruz diariamente por meio do poder da cruz de Cristo e decidamos diariamente negar-nos a nós mesmos até que seja eliminada. Trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos. 2 Coríntios 4:10. A auto-compaixão, o amor-próprio, o temor do sofrimento, o retrair-se da cruz, são todas manifestações da vida da alma, porque sua motivação primária é a preservação do eu. Resiste bravamente a sofrer qualquer perda. Cada vez que tomamos a cruz, sofremos a perda da vida da alma. Cada vez que fugimos da cruz, a vida da alma é alimentada e preservada. Irmãos, a vida do eu tem que ser vencida passo a passo. Quanto mais profundamente penetra a palavra de Deus, mais profundamente opera a cruz e mais intensamente o Espírito Santo completa a união da vida de nosso espírito com o Senhor Jesus. Como podem os crentes negar o eu quando até agora lhe era desconhecido? Só podem negar aquela parte da vida do eu que reconhecem. A Palavra de Deus tem que ir pondo a descoberto mais e mais de nossa vida natural de modo que a obra da cruz possa investigar mais e mais profundamente. É por isso que a cruz deve ser levada diariamente. Conhecer mais da boa vontade de Deus e conhecer mais do eu proporciona à cruz mais terreno em que operar. E essa operação é pela Sua Palavra: Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração. Hebreus 4:12. Amém.

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